Título: A Herança de Thuban – A garota Dragão #1

Nota: ⭐⭐⭐⭐

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Depois de ter lido 8 livros da Licia Troisi, não pensei que ela conseguiria me surpreender mais uma vez. Em um ritmo que não vimos em nenhum de seus livros anteriores, A Herança de Thuban é um respiro juvenil na literatura de Troisi, trazendo uma história que encanta muito mais os mais jovens do que os adultos.

Não que isso torne o livro ruim, não me entenda mal. Mas, de fato, o livro foi construído pensando no público juvenil, e traz discussões e construções que agradam muito mais este público do que eu e, possivelmente, você.

Processo de crescimento, medo de não saber quem é, temor pela rejeição; todas essas questões, que são tão presentes durante a adolescência de muitos, fazem parte da narrativa. Se eu esperava algo da nova série da Licia Troisi, com certeza não era isso. Há quase uma beleza nessas dores tão comuns na adolescência, e acho que só Troisi é capaz de fazer com que eu diga isso. 🤣

Mas, afinal, o que esperar do livro inicial A Herança de Thuban? Se você quer entender como esse livro pode encantar você, me acompanha um pouco mais nesta resenha. 🙂

E se os dragões não fossem só lendas?

Você acredita que dragões já voaram pelos céus da Terra, oferecendo sabedoria e proteção para os humanos? Sofia, a protagonista criada por Licia Troisi, não acredita. E porquê acreditaria, né?

Moradora de uma Roma contemporânea, ela é uma jovem órfã que não vê grandes perspectivas de sair do orfanato em que vive. Aí você me diz: de novo essa história de órfão indo atrás de aventura em livro de fantasia? É, meu amigo… De novo. Mas isso não significa uma coisa ruim, vai por mim.

Licia Troisi tem todo um jeito de tornar até a história mais entediante em um às da literatura. Eu nunca tinha visto essa faceta dela brincando com histórias no “mundo real”, mas foi uma experiência divertida.

Você pode esperar muito da escrita detalhista da autora neste livro também, e acho que foi isso o que tornou a leitura interessante mesmo para mim, que não sou o público-alvo da história.

Mas, bem, voltemos um pouco para a história. A protagonista que você vê em A Herança de Thuban não sabe nada dos pais e nem de si mesma; a única coisa que sabe mesmo é que não há lugar para ela no mundo.

Se sente odiada por todos, deslocada e confusa. Sofre de baixa auto-estima e acha que o mundo está conspirando contra ela o tempo inteiro. (Tem coisa mais adolescente que isso?)

Apesar dos pesares, a vida de Sofia começa a mudar quando um homem de aparência tranquila bate na porta do orfanato e diz que conheceu os pais dela no passado. E mais: diz que quer levar Sofia para a casa dele, para fora daquele orfanato. É aqui que a aventura começa.

Um clichê fantástico, mas bem escrito

Ela aceita ir para a casa daquele estranho e vê a sua vida virar de cabeça para baixo. Descobre que o mundo é mesmo esquisito, e que ela tem na testa o sinal de sua herança “dracônica”. Descobre também que os dragões foram “extintos” há milhares de anos, mas colocaram em meros humanos parte de seu poder para combater o mal que pode assolar o mundo.

E, como você pode adivinhar, esse mal não é pequeno e nem fácil de combater. O mundo está mesmo em perigo e tudo está nas mãos de Sofia, uma adolescente desajeita e insegura, e Lidja, uma jovem que também possui em si o poder dado pelos antigos dragões.

“Qualquer que fosse o curso do destino, ela acabava trancada entre quatro paredes. Não era sempre prisioneira? E em um amanhã, quando fosse suficientemente forte para sair mundo afora, não seria prisioneira, de qualquer jeito, do próprio destino e da própria missão?”

– A Herança de Thuban, Licia Troisi

O papel dessas jovens é encontrar os frutos da Árvore da Vida e derrotar um antigo vilão, responsável por trazer a morte e desgraça para os dragões há tantos milhares de anos atrás.

Achei interessante como a autora traz mitos antigos de nosso mundo neste momento, nos lembrando de contos como o da Yggdrasil, representação da Árvore da Vida na Mitologia Nórdica.

Ainda assim, sei o que você está pensando. Tudo isso está parecendo um grande clichê, tão presente nas obras de fantasia, certo? Mas a autora não quis fugir dos clichês, pelo contrário, quis desenvolver esses clichês da melhor maneira possível.

Esse não é um livro de ação alucinante e nem uma fantasia vazia, mas uma obra sobre crescimento e auto-aceitação em meio ao encanto de uma história sobre magia.

As protagonistas sempre cativantes da Licia Troisi

Um grande destaque da narrativa está na construção dos personagens. A obra trouxe personagens cativantes (apesar da protagonista meio lenta), que ajudam a superar todo o clichê da história.

A narrativa cuidadosa da Troisi mostrou que é possível contar uma história infantil com uma narrativa simples, mas extremamente bem construída com personagens “vivos”, prontos para aprenderem com os erros.

Mas há uma grande diferença entre este livro e todos os outros escritos pela autora. Troisi é especialista em construir personagens femininas fortes e cheias de personalidade, mas Sofia foge muito desse estereótipo que aparece tanto nos livros da autora.

Ainda assim, não é uma personagem ruim. A verdade é que ela é uma representação fiel da adolescência e é usada pela autora como um exemplo de como podemos superar os nossos próprios medos. Isso é incrível, e acho que pode fazer bem para os leitores mais jovens.

Por outro lado, também é incrível ver como o crescimento da personagem soa factível e real. Nada acontece de uma hora para a outra e todas as decisões – inclusive as ruins – possuem consequências graves a longo prazo. Uma boa forma de representar a adolescência, mesmo.

Por isso mesmo, é possível que a protagonista Sofia irrite alguns leitores mais velhos com a sua imaturidade e dúvidas sobre tudo. O livro leva um bom tempo até que Sofia comece a crescer, e, para quem não se identificar com as dores da personagem, esse “bom tempo” pode parecer demorado demais.

Não vou dizer para você que foi a leitura mais divertida do ano, mas eu sabia que não fazia parte do público-alvo da Troisi neste livro, então relevei. Também, não foi nem de longe a minha pior leitura. Acho, de verdade, que essa é uma leitura importante para os leitores (e, principalmente, leitoras) mais jovens, e pode trazer aprendizados interessantes.

A narrativa da Troisi, mesmo nessa versão infanto-juvenil, ainda surpreende com a sua leveza. Ela consegue te colocar no meio da cena como poucos autores de fantasia conseguem, e precisamos tirar o chapéu para o talento incrível desta mulher.

No mais, não sei se darei continuidade à leitura da série, que contará com 5 livros, mas recomendo a leitura para quem está em busca de um infanto-juvenil leve e bem escrito.

3 comentários em “Os encantos do infanto-juvenil A herança de Thuban, da Licia Troisi

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